Eu encarava a noite, a força da lua crescente atraindo-me com intensidade. Tomando um gole do meu Dalmore 62 — o melhor uísque single malte já produzido —, passei a mão pelos cabelos. A necessidade de correr livremente estava aumentando, crescendo mais forte a cada hora. Eu ansiava por deixar o vento limpo e seco do deserto soprar tudo para longe.
Culpa da lua de sangue, um augúrio ameaçador para todos os meus ancestrais selvagens, programada para surgir sobre o horizonte imponente de Las Vegas dentro de alguns dias. Todos os meus bilhões não podiam impedir aquela trapaceira de causar estragos em minha espécie. Não que eu quisesse trocar de lugar com qualquer outra criatura de outro mundo. Nada supera ser um lobisomem. Nada. Especialmente ser um lobisomem bilionário, com mais dinheiro e posses do que qualquer outro lobo — e a maioria dos humanos — no planeta.
Saboreei o último gole do uísque perfumado, com seu rufar de tambores e final suave. Seria divertido ver o que meus rivais da Casa Ribelle haviam planejado durante o evento, necessitando que eu mostrasse àqueles vira-latas sua baixa posição na hierarquia. Meu lobo se eriçou só com a ideia, pronto para atacar.
Deixei meu copo cair sobre os rascunhos da recente entrevista que dei para a Trimestral dos Líderes Empresariais. A fundação do Banco Real de Luceres e a recente expansão de nossas empresas de cassino para vários novos países eram material de lenda e justificavam uma grande matéria central na revista. Era engraçado, na verdade, como os humanos eram incapazes de ver até mesmo o que estava bem diante de seus narizes. Minha foto me encarava da página, todo charmoso para o público, mas a superfície lisa escondia uma besta, pronta para irromper a qualquer momento.
E aquela besta, entediada e cansada da mesmice dos dias, precisava de uma mudança. Onde estava a emoção? O novo desafio? Ter reunido todas as riquezas que o mundo tinha a oferecer não preenchia o profundo vazio de anseio que crescia a cada dia, de querer algo mais. Só para mim mesmo eu admitiria que minha vida estava carente e que, mesmo cercado por tantos, eu estava solitário.
Talvez fosse a hora de escolher uma companheira? Mesmo que ela não fosse a famosa Companheira Eterna tão valorizada pela alcateia, pelo menos eu teria uma companhia à noite, alguém para compartilhar minhas vitórias. Não. Eu queria a coisa real. Uma verdadeira companheira ao meu lado, ungida como a escolhida do destino. Levantei a cabeça e fechei os olhos, captando uma sensação de mudança no vento. Algo estava vindo…
Tum.
A porta do meu escritório se abriu com força, fazendo com que um rosnado baixo de aviso escapasse de minha garganta antes que eu visse o intruso que havia quebrado minha concentração. Ah, era Lucius. Meu gêmeo idêntico. Pelo jeito, ele vinha trazendo presentes duvidosos.
Duas jovens assustadas seguiram meu irmão para dentro do escritório da cobertura do cassino Palácio Brilhante. Elas deviam estar assustadas. Lucius pode ter sido nomeado em homenagem à luz, mas seu coração estava cheio de escuridão.
— Encontrei esta dupla se esgueirando por aí, fazendo perguntas aos crupiês sobre nossa operação e causando um certo incômodo. Intervi quando elas subornaram um de nossos funcionários para deixá-las entrar na área restrita¼ com a promessa de um boquete grátis.
— Isso não é justo! — A mais alta das duas objetou. Elas eram mulheres bonitas, altas e loiras, e arrumadas no estilo típico de quem procura um bom momento. Ou de quem procura proporcionar um. Arqueei uma sobrancelha, observando-a com ironia enquanto ela continuava seu protesto.
— Sou só uma estudante de administração de hotéis tentando obter algumas dicas de quem trabalha no mundo real. Minha amiga Brandi só veio para me fazer companhia. A propósito, meu nome é Jill.
Mesmo a seis metros de distância, eu podia sentir o cheiro da mentira ardente que perfumava sua pele. Normalmente, eu diria a ambas para se despirem, para provarem sua inocência. Hoje, achei a ideia repugnante. Lucius me lançou um olhar estranho, esperando minha reação. Eu acenei para ele. Você quer isso, vá em frente.
— Tirem as roupas.
Ambas olharam para Lucius com enormes olhos de gazela.
— Como? - Jill perguntou, seu olhar indo e vindo entre mim e Lucius.
— Você me ouviu. Se vocês são inocentes, tirem a roupa - Lucius disse.
— Eu não estou com nenhuma escuta.
— Prove. Eu deixo você ir se você estiver limpa.
A que se chamava Brandi balançou a cabeça.
— Eu não vou fazer isso. Você não pode me obrigar. — Ela abraçou o próprio torso.
— Eu posso e vou. Somos a única autoridade aqui no Brilhos. — Lucius usou o apelido dado ao Palácio Brilhante, que era também o nome do nosso cassino. Suas exigências haviam despertado a mais alta — seu cheiro saturou o ar com um almíscar doce. Meu nariz se contraiu, ambivalente sobre o odor.
— Qual vai ser, Jill? Tirar a roupa ou ser banida?
— Pode me banir. Eu não me importo — Brandi disse.
Jill olhou meu gêmeo diretamente nos olhos, desafiando-o. Ela ergueu os braços em um arco gracioso e desfez os nós amarrados na parte de trás do pescoço, deixando seu vestido curto de chiffon azul cair em um brilho de tecido ao longo de seu corpo, formando uma poça no chão. Por baixo, ela estava nua, exceto por uma minúscula calcinha de renda branca. Seus fartos seios eram firmes e erguidos, os mamilos tensos e protuberantes alguns bons centímetros, implorando para serem beliscados e sugados. Aparentemente, Jill gostava de receber ordens, assim como muitas “Jills” antes dela. Entediado, minha mente divagou. Até meu lobo parecia achar a exibição menos interessante do que o normal, apenas sentado observando em vez de querer brincar.
— Viu, sem escutas — ela disse. Ela girou em um círculo completo, seu longo cabelo loiro caindo ao seu redor, seus seios balançando com os movimentos graciosos de seu corpo.
— Mas e debaixo dessa calcinha? — Lucius perguntou, o desafio claro. Uma coisa em que concordávamos — não havia nada na terra mais bonito do que o corpo feminino. Mas hoje, eu estava sentado e contemplando tomar outra bebida forte, enquanto tamborilava meus dedos na mesa.
Ela prendeu os dedos no elástico da cintura e deslizou a calcinha por suas longas pernas bronzeadas, expondo completamente sua depilação à brasileira. Então, deslizando a renda sobre seus saltos plataforma de dez centímetros, ela a jogou em Lucius. Ele a pegou e cheirou profundamente sua umidade perfumada.
— Legal. Agora você. — Ele apontou para a outra garota.
Ela balançou a cabeça.
— De jeito nenhum.
De repente, percebi que preferia sair para correr a estar ali. A luxúria reprimida da força da lua cheia que se aproximava fez minha pele ondular com o desejo. Se essa mulher estava relutante, então bani-la das instalações seria suficiente. Nem eu nem Lucius forçaríamos uma mulher. Por que deveríamos, quando todas elas vinham por vontade própria? Não que eu não gostasse de uma boa perseguição para variar — contanto que eu vencesse. E eu sempre venço.
— Tudo bem. Mas esteja avisada, uma foto será tirada e compartilhada com a equipe - Lucius disse. Ele estava prolongando isso e eu queria que acabasse logo. Tentei encontrar seu olhar para avisá-lo.
A mulher hesitou, mordendo o lábio inferior. Eu podia ver através da farsa. Eu tinha que admitir — os cães Ribelle estavam atraindo espiãs mais bonitas. Não mais inteligentes, talvez, a menos que estivessem procurando ser pegos? Elas teriam que ser verificadas minuciosamente antes de poderem deixar as instalações. Eu deixaria essas honras para meu gêmeo.
Lucius olhou para mim, a luxúria escurecendo sua compleição. Ele, talvez mais do que eu, apreciava nossos acasalamentos com mulheres dispostas nas imediações do outro. Nossos irmãos gêmeos mais novos e estudiosos, atualmente em Roma, gostavam de ter a mesma mulher, mas eu não imaginava que isso pudesse ser o caso comigo e Lucius, sendo eu o alfa.
A espiã número dois deslizou para fora de seu minivestido apertado, expondo outro conjunto espetacular de seios grandes e a falta de roupa íntima, sua relutância um jogo óbvio. E uma isca.
— Preciso verificar se você tem escutas — Lucius disse.
Jill, a espiã número um, se ofereceu ao meu irmão, erguendo as mãos acima da cabeça em posição de rendição. Ele prendeu os pulsos dela entre uma de suas mãos, depois passou a outra mão pelo cabelo dela, depois por sua pele macia, beliscando seus mamilos antes de deslizar os dedos para sua buceta. Ela arqueou as costas.
Pelo canto do olho, percebi o leve brilho da perturbação cósmica no ar ao redor de Lucius, seus olhos brilhando em azul antes de voltarem ao marrom. Ele queria a transformação. Eu entendia. Os negócios estavam consumindo tudo ultimamente, especialmente a conclusão dos acordos sobre a aquisição do novo banco.
Houve uma batida forte na porta.
— Entre — eu disse.
— Desculpe incomodá-lo, senhor — Serge disse respeitosamente.
Meu braço direito, segundo na linha de comando depois de Lucius e semelhante ao conselheiro de um chefão da máfia, parecia incomumente agitado, embora estivesse fazendo um trabalho admirável ao tentar disfarçar. Mas meu trabalho era não perder nada que pudesse afetar aqueles sob meu comando. Cada pequena nuance significava algo.
— Diga.
— Apenas avisando que a banda só de garotas, As Sereias, chegou, e está com os instrumentos montados no Nero. — Serge estava totalmente ciente da minha ordem permanente de garantir que eu soubesse de tudo o que acontecia no meu cassino. O concurso online que promovemos para a chance de ganhar três noites tocando no Nero havia atraído muita atenção da mídia — bom para os negócios e bom para o grupo que se beneficiaria da exposição.
Eu acenei com a cabeça. A sensação de mudança no vento esta noite ficou mais forte. Hora de prestar muita atenção, ele parecia dizer.
As luzes da sala diminuíram. Meu gêmeo estava se preparando para transar com as mulheres.
— Verifique as joias delas, Lucius. Lembre-se da última vez. — Esconder um dispositivo de escuta em um brinco havia funcionado até que eu mandei varrer a cobertura em busca de dispositivos eletrônicos.
Tomei uma decisão rápida no momento, nascida do meu desejo de sair do escritório e verificar a banda que havia atraído tanta atenção.
— Vamos — eu disse a Serge.
Liderei o caminho para meu elevador particular do outro lado do corredor e apertei o botão do saguão. Viajamos em silêncio, meu lobo um tanto irritado por perder a transa fácil esperando lá em cima no meu escritório, agora que eu havia escolhido seguir em frente. Mas minha mente voltou aos pensamentos da minha própria Companheira Eterna e o que isso significaria na minha vida.
Balancei a cabeça com determinação, afastando a ideia. As chances de isso acontecer depois de todo esse tempo eram mínimas ou nulas. Mas isso não significava que eu não pudesse desfrutar da companhia de uma mulher, sob as circunstâncias certas, para manter os desejos sob controle.
A loucura da lua era um verdadeiro inferno.